Estrela no Vazio Entupido

Estão servidos?

Certas coisas são certeiras mesmo. como esse vazio que insiste em ser só, solidão. há um aperto, que não é bem aperto, é mais um suspiro no peito, um frio, buraco, como se corresse um vento que o cortasse bem ao meio, bem no centro, vai e volta, um frio, um vazio e um negro. que poderia ser branco porque é mais uma mistura de tudo, de coisas que vem e não se sabe ao certo o que podem ser. então vem lágrimas, mas não caem. são como pedras que encobrem os olhos, fixando eles num espaço horizonte vazio, cotando o tempo e o espaço além de mim. se me perguntarem o motivo eu não saberia dizer, droga. não tem nada de nada, só um copo de lembrança. é quando penso nela que a água vem e rola, e pinga no corpo. e eu já não tenho palavra que me represente, porque de vez em quando acontece essa dor. ela surge em sonho e sugere que o dia seja passado em branco, assim vazio e entupido de tudo. escreveria como quem pinta um quadro surrealista, se eu soubesse como. mas não, escrevo apenas. inauguro novas linhas repetindo as velhas historias e nada demais. só o que me gasta o coração, assim fazendo ele saber que existe. e ta cansado, mas ta só começando. logo mais ele volta, revolta, se insinua e dança novamente como se soubesse do mudo, como se o mundo fosse só saliva, sangue e suor.

*escrito em algum lugar do passado, que sempre se faz presente.


Pós Mudo

Óculos turvos pra não se encontrar, escudos de cogumelos atômicos.  O ódio como prato principal. Nascendo entre escombros, de camisa verde e amarela. Vermelho. As palavras de amor são histórias contadas  por sábios e velhos ao redor da fogueira, Amor como um mito. Os beijos arqueados no front de guerra ambicionando voltar às fotografias. Cópias e resumos de ser em planos frustrados de ecologia. Pilares de cristianismo agonizando no fogo de explosivos. Fuga, estradas, caminhos e campos expostos ao sol. Refugiados. Amputados. O que escrever em tempos eminentes de guerra que  já não tenha sido escrito? Ser histriônico agonizando entre zumbis. Ser campeão. Identificar. Aprovar. Demarcar. Lutar. Altruísta internado.


digo que...

Um cotidiano que eu mereço é todos os dias aprendendo a aprender. Aprender deveria ser sinônimo de deixar aquilo que diz que você só vai fazer o que quer, aquilo que diz que você é quem sabe de si, deixar isso tudo ir pro inferno! aprender é dizer não pra própria razão dominadora que fica falando que você é quem está certo. Humildade! Eis a palavra! Um poder de se permitir ser ilimitado independente de ser melhor do que o outro. Aprender sobre movimentos, corpo e poéticas corporais então! nem se fala! um super exercício de humildade e sensibilidade. Dança, lutas, acrobacias, malabarismos...todos no mesmo corpo-ser. Pa. Baum. Pow. Cada pancada um fantasma desaparecendo. Cada pancada um assombro a menos. Cada deslizar dos pés uma descoberta. Aprendo sobre o cuidado, sobre cuidar de si, cuidar do outro e estar em relação. Como dizer que uma dança não é uma agressão? Pancadas no chão, pancadas no ar que rodeia o bailarino. O pé que sustenta também golpeia. As mãos contrariam a resistecia do ar. O umbigo ambíguo trabalha em função da contradições das forças céu e terra, queda e salto. Estar em relação com algo além de mim, com um lado ainda obscuro! Quantos lados tenho? O que me rodeia? Qual o segredo que me norteia? Quem disse que existe bem ou mal? Alguma coisa se altera em mim quando aprendo a dar golpes, passos, socos, ponta pés e usar a força com consciência. A força consciente, consciente de um poder do inconsciente, de um poder que não vem do pensamento, um poder que vem em saber abandonar as idéias que eu tenho de mim mesma. E pra que isso? Sou eu aqui raciocinando agora...pra que? Sem porquês, apenas palavras para aumentar a fé,  como uma meditação que se concentra no próprio ar. Então eu posso mentalizar o abandono e  ter fé no poder do movimento, executar, deixar que meu próprio ser-corpo seja um guia repleto de sangue, suor e ar pra então transcender, gerar beleza, gerar a luta. Mesmo um perdedor aprende sobre sua  própria fé. A Fé em abandonar-se. A fé em permitir-se, a fé na fluidez da própria vida, a fé no que nasceu de dentro para fora  que é bem maior do que o que se pensa ser nascido. Cada palavra é um caminho. Cada golpe é um estrondo no infinito, é uma ação que vai além do que está ali preso no meu cabeção. Cada palavra é um caminho.  Acredito  nas minhas duvidas! Confuso. Eu não sei o que é saber! Tenho a impressão de que ainda não sei aprender sem prender. Saber as vezes se parece com uma prisão. Tudo que se sabe se limita. E porque eu quero saber? Técnicas e técnicas  e instrumentos, tudo foi criado para libertar a humanidade, para permitir a criação, estou pensando certo? E porque a gente tenta dominar alguma coisa? Porque esse prazer em se saber sabido? Eu quero mesmo é não saber! Eu quero mesmo é me largar! Executar o movimento, como um cavalo que corre sem saber pra onde vai, e se defende quando numa guerra, luta quando numa corrida, sem se perguntar para que ou para quando, sem pensar em recompensas.  Arte. Luta. Fogo. Jogo e Liberdade. Saber não saber. Ter fé na própria força e vontade de superar os obstáculos. Ter fé no que se desconhece, ter fé na surpresa do mundo e  na sua própria resistencia. Permitir a transformação. Viver acordada.

véia louca

a minha cabeça fervendo e eu tenho que ficar aqui. quanto mais repressão em casa, mais liberdade na minha arte. casa, ventre, herança genética, moral. minha arte ego, prazer, abertura. minha. eu . plena de mim. querer. silencio navilouca que eu sou pedra rolando e ta despencando. porra! desapega! as coisas passam, as pessoas ficam. as coisas passam, as pessoas transformam. rasgar os trapos. contar os pratos. queimar os textos. regurgitar as palavras. e insistir nessa vaga idéia de paraíso que nos persegue bonita e  breve. missão cristã. véia louca.

é o ar e o acordar...

Enquanto ele dorme, acordo sonhando com a despedida. Sonhando com a dor. Sonhos. Acordo sem ardor. as vezes entendo que a dor é um vício.  Com a imagem de lembrança. Subconsciente que inventa os medos e abandonos. Eu acordo com gritos surdos de magoas. E escrevo pra me livrar dos assombro e pra confirmar que são os próprios olhos quem contornam o mundo, a perspectiva é de quem se olha, o que se vê é apenas um ponto de uma sucessão de outros pontos. Eu sinto que ainda não acordei. Ainda não me tomei à consciência de mim. Acorda! Acorda! Seja forte sem ser agressiva. Seja lutadora sem ser violenta. Seja louca sem ser isolada. Eu me esqueci de algumas coias. Achei que o outro era eu quem criaria. E eu me prendi. Seja movimento com forma, cores, expressão, verdade e harmonia. É tão difícil soltar-se. É tão difícil estar convicto! É tão tão! Eu reclamo! Poxa vida! dó de si mesmo? sei lá. . Mas é porque te vi indo embora nos meus sohos. É poque eu vi meus sonhos indo embora de  mim. É porque inverso sem verso, sem rima, sem paixão nas palavras que deslizam na tela. É porque desaprendi a usar algo que não sei nomear. É porque aprendi sim, sobre minhas fraquezas. É porque ser fraco é comodo. É porque parecer ser forte é comodo. É invento. É . Sou aquariana. Sou racional, contraditória, paz e amor, ódio e inveja. Sou eu com vontade de quebrar as palavras ao meio. Sou eu que já não sabe mais escrever. Sou eu que preciso ver o sol. Sou eu que preciso sentir o ar. Sou eu que acordo com a multidão na cabeça.Sou eu que quero controlar o tempo, o mundo, as pessoas. Sou e eu quem enjoa de ser eu. Tantos pontos finais e  nenhum certeza. Não sei se escrevo como um jogo, ou com uma verdade que precis ser dita. É porque acordei e te vi partindo de mim. Acordei e não sei o que crei. Sempre houve um você para ser eu. Sempre houve um você para me ser completo. Ninguém vai partir de mim, eu não sou partido. Eu sou parte. Sempre haverá um você para ser eu.

fora da lei

que talvez seja importante falar da minha vida. que talvez seja importante as coisas mudarem. talvez seja importante mencionar que ainda tenho fúria. que a minha fome é por justiça. que ainda há doçura nos meus planos. que ainda há os cachos dos meus cabelos sustentando cicatrizes. que ainda há um silêncio que possa ser sinônimo de salvação. que ainda há essa vontade de ser forte e que as palavras não fossem necessidade. que eu quero sua mão agarrada à minha e que a gente corra, corra e não se sufoque. que ainda há um céu azul. que ainda há doçura nos meus planos. e que quando uma veia se expõe há centésimos de vida. que talvez eu não queira escrever só quando sugere o desespero ou quando o espelho parece embaçado. muito menos queria que as palavras fossem desenhos surdos de quando tempestades me entopem e reviram trovejantes textos nas minhas orelhas. que há um sorriso de felicidade em cada esquina. que a lei é ser feliz. que liberdade é fazer o que se tem vontade dentro das possibilidades impostas na conveniência do outro. e que se foda. eu ainda rumino essa dor. eu sou fora da lei
minha língua percorre seus sentidos
o gosto salgado do suor escorregando
você dentro de mim
minha língua revela os meus erros
minha língua trava meus olhos no vazio
e você languido se esparrama
enquanto eu me derreto sobre o seu peito
eu me invento e repito elogios
como um gramofone anacrônico
eu me invento e me inverto
pra que do avesso, você me vendo
não me abandone
eu me inverto, pra que forte como cresço
minhas armaduras não mais me escondam
então eu solfejo alegrias quentes
eu solfejo de um prazer úmido
e eu rio de graça das piadas que tento

carnaval na carne de sangue que não há prece.

E então eu quis fugir. suicídio. não me importei em sentir a beleza de ter alguém ao meu lado. eu só estava perturbada por coisas que não entendo. então um bar. um copo de cerveja. uma dose monstra de cachaça. eu mesma monstra. desafiando a intimidade. desafinando no coro dos perdedores. talvez esse blog seja apenas pra falar do fracasso. do quanto é difícil acertar na vida. acerto sim, direto na cara dela:felicidade. e faço ao contrário. o negócio é que desarranjo e decepciono por prazer. sadomozoquismo. auto destruição. psicopatia. esquizofrenia. dar nome as coisas sem nome não é uma forma de se livrar delas. poesia é um contrato com o caos. eu aqui no quarto dele. eu aqui pertubando a paz alheia. eu aqui pensando apenas em mim mesma. foda-se. viva o umbiguismo. repetindo as palavras pra ver se elas se cansam de ser verdades. querendo abusar de mim mesma sendo não-eu. ridícula. só da pra ser o que se é e vive e sente. não da pra esconder. não sou ilusionista. não. sou atora e tropeço. caio. desmaio em algum canto interno quebrando a cara da bondade, da generosidade. eu errei. mais uma vez eu errei. e não dá pra falar que errei tentando acertar. não. errei querendo errar. querendo suicidio. uma mesa de um bar como o de ontem era uma reunião de mortos-vivos. incompetentes na arte de não ser. não há beleza nem esperteza nas palavras que regurgito num vomito sem ressaca que me segue por hoje. não há cristo redentor dos pecados. é carnaval e era um céu acinzentado. e era nuvem falsificando o segredo.  e era suicídio na rua escura.

Res-existir

A vida é uma oração. Uma sucessão de resistências. Se encontra na linha tênue entre o que perturba e o que insulta. Resistir. Para agir foi preciso resistir.  Permitir que um "bem estar" invada a alma, com ar condicionado. Condicionado às lutas. Resistir significa conectar os ouvidos às antenas do futuro. resistir é estar em movimento. O movimento dos olhos desvendando palavras, o movimento apressado dentro de um carro bala, colhendo futuro e derrubando o medo da morte. Quantos quilômetros uma pupila circula por dia? Resistir em voltar atrás. Resistir é jogo.

mundo (de quando eu acreditava na poesia livre)

eu queria praticar o mundo
eu queria ser o mundo
eu queria o mundo mudo
so uma vez
quando a raiz de tudo não era palavra
nem verbo
nada que o valha
eu queria vagabundo
eu queria passear no mundo
eu seria mundo
sujismundo
vagabundo
eu mudo
e raiz

você livre

"você nunca sabe se quer
acho que você não quer
se prender
mas mesmo assim
vive numa liberdade presa de não
querer se prender"
 ansiedade. buracos no sobreolho. marcas de expressão.impressão de sangue circulando em nome de nada. especialização de 6 anos em ser inútil.sentido de sensibilidade. umbiguismo. Taismo. não faço nada mais do que ler uma mulher explosiva. deve ter alguma relação com sangue. imagino daqui uns anos essa vida desatada. essa mar de lembranças me afogando. o pulmão ficando negro. as posições de ioga todas treinadas na cama, no chão, no sofá, no chuveiro. a dor de não ter nada além das próprias lisergias quânticas de um cerebelo esquizofrênico treinado por canabinoides e personagens amigos.um se aleatório que se dedica a não ser. pode uma coisa dessa produção?

e era nada

eu jogo
ele joga
nos jogamos
        to play
play
meu pé de ipê 
insiste em porques
aqui fora é  aqui fora mesmo
é  eu fora de mim
é  eu emprestada para
o abismo
é eu imprestável
pra que?
p o é t i c a
eu porética  
põe põe tudo de uma vez
me fode me cola na parede
vai vai vai
vai a merda!
é e não é isso de nada não
a musica me entorpece os ouvidos
pra fora é aqui mesmo
raízes dos porquês
há um lugar pra ser sempre meu
eu sei
foda-se mode-on
on on on on oun ominus oun nem
ou me? ou nem? ou si? ou sem? ou si?
me! tu! la!
sempre um fim trágico
um fim
finitus
finitude
um fino
fomos
fones
Afonsos e Taiannes
no ritmono suing letras e bolhas espinafres e laranjas crocos lilases e amarelos rosas adamascadas violetas e acrilegias
embromada encantada encanada envergonhada
nao mais
vergonha de nada nao
bromelhas e açafrões silvestres 

domingo no ventila-dor

Em busca de novas perguntas. Meu universo está em transformação. Que bom. Ainda circulam "arte", "politica", "poder". Sentimentos. As pessoas. A estrutura. O amor. A dependência. A verdade. A imitação. Meu quarto fechado. Meu mundo de mil possibilidades. Papéis não lidos. Um corpo forte. Um coração guardado pra mais tarde. Atrás de coisas belas. O óbvio. O nada. A sensação e a realidade. O eu e o outro. O nós. A guerra. A maldade. O instinto.A paranóia. O vazio. A vida que grita, o desejo que se esconde. Onde? poesia para quem? minhas veias escritas na porta do desespero. O Desespero calmo, calminho, como um Leão sonhando com garças e urubus. Como eu mesma numa água gelada. Meu desejo dorme paciente. É um domingo e algo re-começa. Sem se perder, cheio de herança, mas é um domingo e algo me diz que é também o nível zero de uma reta obliqua. Eu e meus segredos estamos de mãos dadas. Eu e minha voz estamos nos encontrando. O canto da voz, o canto do quarto. A espera. É apenas um domingo de janeiro. É apenas uma calma vinda direto do ventilador. É apenas abstrato, concreto, parede e lembrança. É apenas fios, conexão e internet. É o bolso vazio e o corpo cheio. É o ar e o acordar, é o sol, é o cheiro. É o medo sim, não nego. Mas ele também esta dormente ao lado do desejo, se alimentando de pombas brancas sempre que boceja, em silêncio .

cotidianamente vazio de tudo

é manhã. uns cozinham. ou melhor, umas cozinham. outros pensam,  falam o que querem, outros são reprimidos, outros presos no cotidiano. o molho esquenta. a gordura queima, a farinha sapeca por aqui e acolá. eu escrevo pra saber onde estou. enquanto escrevo, o mundo gira. para dentro e fora de mim eu imagino como fazer sentir o que daqui não tem sentido. trabalho e oportunidade. ambição. tempo. desgaste.há os livros por aí e minha cachola vazia e sem culpa. não há duvidas por perto. há essa vontade de se fazer sentimento. jogo e ação. e se a gente se despisse todos os dias e fosse pra rua, sem nada?

mãe

Envelheci dez anos com um diploma na mão. Criei prisões em nome da palavra filha. Envelheço dez anos em uma semana. Passeio de mãos dadas com os desafios. Enfrento, idealizo, danço, me canso, me arranco e me dispo. Me amo e me persigo. Envelheço dez anos em segundos. Remoço na corrida. Reencontro no meu útero o umbigo que me deixou no mundo. Me reconstruo e me desatino. Ando. Horizonte de mim, oriente de si, de ser, de sentir. De imaginar. Intensão de sim. Há alguma gravidade no não. Há qualquer liberdade no sim. Desprender. Desapegar. Responder com consiencia. Sim pro destino. Sim a Deus. Sim a nova vida. Dez anos se passaram. Dez anos sem entender. Dez anos sem falar o nome dela. E agora aqui, no meu útero, oxigênio, sem lembrança. Apenas mulher. Apenas ser. Conexão. Meu rosto que envelhece e minha alma que te busca, mãe. E sabe que não há colo que aconchegue. Que não há barriga que seja casa. Há o mundo, há aqui fora. Há realidade. Há um buraco no centro de mim que chama o universo pra dentro de si.