Estrela no Vazio Entupido

fora da lei

que talvez seja importante falar da minha vida. que talvez seja importante as coisas mudarem. talvez seja importante mencionar que ainda tenho fúria. que a minha fome é por justiça. que ainda há doçura nos meus planos. que ainda há os cachos dos meus cabelos sustentando cicatrizes. que ainda há um silêncio que possa ser sinônimo de salvação. que ainda há essa vontade de ser forte e que as palavras não fossem necessidade. que eu quero sua mão agarrada à minha e que a gente corra, corra e não se sufoque. que ainda há um céu azul. que ainda há doçura nos meus planos. e que quando uma veia se expõe há centésimos de vida. que talvez eu não queira escrever só quando sugere o desespero ou quando o espelho parece embaçado. muito menos queria que as palavras fossem desenhos surdos de quando tempestades me entopem e reviram trovejantes textos nas minhas orelhas. que há um sorriso de felicidade em cada esquina. que a lei é ser feliz. que liberdade é fazer o que se tem vontade dentro das possibilidades impostas na conveniência do outro. e que se foda. eu ainda rumino essa dor. eu sou fora da lei
minha língua percorre seus sentidos
o gosto salgado do suor escorregando
você dentro de mim
minha língua revela os meus erros
minha língua trava meus olhos no vazio
e você languido se esparrama
enquanto eu me derreto sobre o seu peito
eu me invento e repito elogios
como um gramofone anacrônico
eu me invento e me inverto
pra que do avesso, você me vendo
não me abandone
eu me inverto, pra que forte como cresço
minhas armaduras não mais me escondam
então eu solfejo alegrias quentes
eu solfejo de um prazer úmido
e eu rio de graça das piadas que tento