Estrela no Vazio Entupido

Dança

Domingo... ”mais uma vez eu sei...” estupidez já vi pior?



Endoideço. E a estupidez é minha mesmo. Triste? Não, chatice. Pra que ser feliz? Onde está o sorriso que brilha? Cara ou coração?


Hoje eu quero ser sincera.


A conversa mais estranha da noite “por que as pessoas dançam?”. Talvez só por não conseguir se entender de outra maneira que não seja os corpos grudados em movimento. De fato. A nossa conversa não durou muito “qual seu signo?” “quantos anos você tem?” “que curso você faz?”. Não entendi.


Eu não entendo nada das pessoas. Tento simplificá-las nas equações da razão de modo a caber você e eu na mesma existência. Mas e daí? Cada um é um infinito em si mesmo. É o que diz a mente redonda. Mas dá, ou mesmo, há tempo para se aproximar de verdade? Há calor o suficiente? Há fôlego? Há fogo?


Sei lá, só estou tentado ser sincera. E sinceramente, tenho bronca da vida. Tem sido fácil. É fechar os olhos e ver as luzes se apagando. Sumindo aos poucos. Será difícil morrer afogado? E sufocado? Será fácil dormir um sonho de para - sempre?


Eu sempre estou aqui. De sorriso amarelo. Coluna confortavelmente encostada numa parede qualquer, terminada no pescoço sustentando a cabeça. Eu sempre estou aqui. E respiro.


Qual a sua filosofia de vida? Pelo que você se guia? Por que você respira?


Por que você ainda respira?


Conversas prontas não levam a nada. Só mantém as cercas da ilusão... eu só tenho conversas prontas, nunca estranhas umas ás outras. Minhas palavras bem que se conhecem, elas são rotineiras, cotidianas e se cumprimentam ao amanhecer. Elas não levam à nada.


...


- oi! Você dança?


- por que?


-porque você tem cara de uma pessoa que dança!


- é... tem vários tipos de dança...


-mas você dança?


- não. Eu não danço. E você, dança?


-Também não. Quer dizer eu mexo o meu corpo quando necessito dele, mas não, não danço.


E ficaram ali por um tempo sem dançar. Tomaram o último gole do conhaque e foram cada um ler o seu livro. Ela, um dicionário. Ele, um manual de sobrevivência em caso de pane num avião.


...

Manhã Vazia

Não sei...Manhã sem aula. Quinta-feira. É propicio. Parece até ordem divina: "fique livre da sua aula para poder encontrar a sua tia". De fato, vejo-a pela casa, ocupando a lavanderia. Acordo cedo. Encontro-a, vem aí a parte "reflexiva" do negócio. Falamos de amor, eu com a minha voz imponente de pseudo-cientista, e ela de ouvidos ligados pra entender um pouco a mente confusa da sua "filha", que sou. Reflexos.


É sempre certo que o olhar no espelho atinge, fere, destrói, constrói ...acima de tudo atordoa. Acordei com um "bom dia" realmente bom. A voz saiu forte. Energizou. Vibrou no meu interior: "Bom dia, Tia!" E logo quis "olhar no espelho", falar de amor, e de vida. Ressonou. Falar de amor! Atordoa. Me deixa num lugar perdido, onde não identifico as cores, onde ignoro os odores.

Senti falta do toque dos meus dedos nas teclas do pc, ou da pressão segura (ou não) deles na caneta. Senti falta do barulho de máquina, que não fosse o maldito rádio sintonizado na estação da cidade. Liguei. E como sempre minhas obrigações tentam sufocar o meu mergulho pra dentro de mim. Pensei. Raciocinei. Me debrucei diante das letras já escritas, dos momentos já vividos, e relatados...e por fim, busquei me concentrar na necessidade (que criei) do agora - ensaio.

Acabei por ensaiar o tal mergulho pra dentro de mim. Ensaiei, como ensaio por toda a minha vida. Imaginando como será o momento em que tudo acontecerá. Lá no meu palco, onde vou representar o que devia. Ensaiei...ensaiei, e aqui estou. Com os ouvidos plugados ao fone do computador, com os olhos perdidos na tela, as mãos trocando as letras no teclado!

Falta o cheiro da caneta. E mais falta senti de ver minhas palavras, sem som. Sem ressoar, sem qualquer vibra-som. Só quis mesmo o cheiro da tinta da caneta Bic. Senti falta do tremilicar dos dedos numa vã perseguição de uma linha reta. Queria escrever e só. Só estar só.

"o que acontece dentro de mim quando a minha vontade de ir embora de casa é bem maior do que a vontade de estar só?"

Fora a persistência das lágrimas, que insistem em não cair, nada tenho a declarar. Busquei por aqui a minha solidão, perdi-a pelos caminhos, pela rota das minhas mentiras.

"Não sei por que diabos as pessoas estranham um ser com um caderno no colo e uma caneta na mão. As palavras tem tamanho poder?"

A chuva caiu. Minha cabeça pensou tantas coisas. Uma manhã vaga deixa muitas vagas para o pensamento. Uma manhã vaga, deixa muita existência perdida com os pingos da chuva.

Busquei solidão. A procuro por todos os lugares.

Tem uma garota ali, na minha frente, sentada na chuva rala que cai das folhas de uma árvore. Havia mais poesia e beleza nela, quando a enxerguei a enrolar os cabelos por entre os dedos, do que há em mim agora ao abrigo da chuva, sentada, caneta em punho vociferando parcelas de existência.

Quis enganar-me e consegui. Meias-voltas do tempo e me vejo cabeça girando, erguida, procurando. Nada. A chuva não vai parar em quinze minutos. E eu vou ter de inventar novos espaços, vagas onde colar palavras, mais palavras repetidas.

A moça se levantou. Pode ser a chuva que molhou. Eu aqui me lembro " a gente ama a forma que os olhos piscam". Também vou ter que me levantar.

" Pensar é a melhor coisa que você faz". Disse-me uma mulher, ontem na hora do almoço. Quem sabe se pensar não tem o mesmo significado de distância. Vagar d'alma- pra dizer um pouco em forma de poesia. Vagar d'alma, alma errante...É garantido a possibilidade do erro. Mas é vendido o certo. Acerto de contas- saldo negativo. Saudoso...

Volta Solidão! Faz favor!