Estrela no Vazio Entupido

Assistente Social


- Será que isso é o ego? Essa mania de ficar falando, opinando, perguntando...?
Mara de batom vermelho entre os dedos, pergunta ao espelho. Olha para boca, seca, pensa:
- Quando se fala muito, não se consegue sentir quase nada. Lembra-se de ter lido em algum livro algo do tipo grandes coisas são ditas em silêncio, pelo olhar.
 –Acho que perdi meu olhar pela boca, diz ao espelho redondo.
Mara tem mania de mostrar que existe no meio das pessoas. É do tipo excêntrica e se sente livre. Está sempre solta por aí, no meio dos abraços e beijos no rosto que despeja nas pessoas. No fundo ela sabe que é só, todo mundo sabe.  E sabe, Mara, é daquele tipo de gente que não se deixa conhecer. Quando alguém se aproxima dela, assim bem perto, contato íntimo-convivência, escova-de-dente, almoço, Mara dá seu geitinho de enganar, e foge, ou dispara um tiro certeiro de palavras que atinge os dois seres com uma bala dada - o olhar.
Virar as costas pro mundo não resolve em nada, então Mara, que gosta de interagir com as pessoas, resolve fazê-las sorrir.  Ensina que se deve sentir mais e fingir menos, ter paciência e aproveitar a dor ou o prazer que cada momento possa doar.
-Mas eu tenho um ego besta, viu! Mara exclamando para seu porta cigarros, cor de rosa.
Pois é, um ego que quer ser visto, mas não tocado. Ela não tem medo da tristeza ou da angustia. Ah! Não mesmo, pois são os sentimentos que ela mais teve contato nessa vida- angustia e sofrimento. Sinceramente, Mara tem medo da verdade. Sua concepção de verdade é que ela, a verdade, é imutável.  E Mara tem medo de ser estática. Se acreditasse na verdade, quem a convenceria do contrario? Por enquanto Mara vive de mentiras. Quantas vidas ela já viveu com aquele sorriso estampado!
Olhando novamente para sua boca, vermelha e seca, mostra os dentes amarelos e constata:
- Deve ser por isso que não acho meu sorriso bonito.
Sim, é porque ele é de graça.

cuidado

"Estamos em face de uma nova mentalidade, a mentalidade do moderno colonizado, do homem que já não sabe querer ser um verdadeiro igual, mas que se sente suficientemente feliz porque pode imitar, mimetizar, os ricos e poderosos, confundindo, portanto, o falso com o verdadeiro. E pensa que nisso está a igualdade. Ele se torna, assim, um poderoso agente da falsamente nova sociedade, a sociedade da imitação, do falso novo, da reprodutibilidade e da vulgarização, no lugar da invenção, da criação, da revolução."


José de Souza Martins

Isso aqui não é uma verdade absoluta, não resumo o ser humano moderno como uma mimesis... é sim um aviso, olha tem gente pensando assim...então, precisamos deixar criar, aprender mais e mais manifestar a indignação.