Estrela no Vazio Entupido

Alhos com Bugalhos

O mundo  corre na velocidade de um trem bala, deixando pra trás as tendências surgidas ontem e que hoje se tornam lixo. Escrementos de uma época. Este new coolunista não nega o efervecer do planeta. Esse imenso sorrisal cultural. Pintores que não sabem pintar, músicos que não sabem tocar, cineastas que não sabem filmar e críticos que não sabem criticar. Instalou-se o vazio geral e a imprensa aplaude esse espetáculo grotesco. A mídia diz que caos é chique, coisa de final de século. Mas, convenhamos, tudo não passa de tremenda merda metida a besta, com pose de pós-bosta.
Se a próxima onda é o Japão, surfarei rumo às ìndias; se todos se estirarem na praia, subirei o morro, aquele dos ventos uivantes, e se James Dean ou Mick Jagger fossem vivos, hoje seriam uns bundinhas. Não há rebeldia criativa que não sucumba diante de um gordo capital. Assim profetizou Karl Perkins ou Marx Bolan. Sei lá! Sei que ao ouvir falar em contra-cultura, puxo logo meu contra-cheque. Quem sabe faz na hora, não espera acontecer. Portanto, molecada botem pra foder. Peguem seus cartões automáticos, vão ao banco 24 horas mais próximo e saquem todas as bandas de rock desejadas. deixem todos os saldos negativos. Gritem, rápidos: "Anarquia! Anarquia!", porque, como disse Bob Dylan a Abie Hoffman, diante de duas carreiras de cocaína: " O último que chegar é mulher do padre!"

Rui Resenha



* Extraído de "Antologia Chiclete com Banana" - Angeli

Mais uma dose


Vem, acalma meus olhos, me olha no fundo. Me explica no silencio os mistérios.  Me busca e guarda, só por agora. Já. Minha pele te implora e faz promessas ao sabor do suor. Encosta e adoça. 

Envelhecer

Ela se mantém ali, parada, deitada sabendo de tudo. Grandmother. Encana com o horário, encana com o lugar. Não sei qual é o tempo que passa na sua vida, mas ela sabe tudo. Ela carrega o mundo nas juntas atrofiadas de humilde senhora- a Dona Maria, de pernas cansadas da pia, dona da vida, sofria...Dona? mesmo? Será que um dia ela seguiu o tempo que lhe vinha na cabeça? Será que ela já perdeu a novela das 8? Será que ela já passou a madrugada na chuva a uma quadra de casa sem vontade alguma de entrar? Será que ela já quis ficar sozinha?
Silêncio. O coração de Minha Senhora bate descompassado. Ouve os passos marcados de sandalha arrastada vindo da cozinha. Nó na garganta. Não reconhece mais o som do palpitar de seu coração. Não. Seu coração é descompassado e o nó na garganta se torna cada vez mais amargo. Sabe que dalí alguns segundos ele vai aparecer, as sandalhas arrastadas não enganam. Ele surge. Olhos nos olhos, se atingem como um raio de sol refletido no espelho. Ele senta no outro sofá, estende as pernas, olha fixamente para a TV. Carnaval, desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. A vida espera.

Saída

A hora de ir embora um grande mistério que só um coração livre pode entender.

Sun is Shining

Saí pra dar uma caminhada, fumar a bagana. Tinha pensado como tinha perdido minhas palavras assim tão simplesmente. Inventei de ter um blog. Inventei de me esconder por trás de palavras que rimassem pobremente sem paixão. Não sei o que ta acontecendo hoje. Fiquei esperando não sei o que. E não veio. Parei aqui na frente dessa tela. Re -li confissões inúteis dos dias fúteis. Procurei mais uma vez. Não deu. Olhei pro dia quente que se estendia pela janela. Saí. Passos sem paixão. Escolha? Não. Escolha seria um copo de bebida barata, o cigarro do lado, um bar com balcão ou uma banda tocando com fúria os acordes da angústia. Mas não, nada disso tem em Dourados. Só pude sentir mais uma vez o mormaço da rua que faz pingar o suor inutilmente no piche esburacado do asfalto. Nada. Só esse brilho amarelo ridículo “sunshine” hipócrita que não dá um descanso, uma praia, um rio pra contemplar.  Dourados! Somos todos dourados por aqui! Uma Nova Califórnia! Aqui não tem povo, tem exploradores e tem os que querem um ganha-pão. As minas secaram, as terras acabaram, as indústrias estagnaram, tudo ficou saturado de pobre, maquina e petróleo, então a solução foi vir pra cá, Centro-Oeste - ocupar. Daí que a gente é obrigado a guentar "sertenejos" que não sabem nada do que é seca ou comer palma, montados nas suas caminhonetes prepotentes que não são capazes de dar seta ao virar, que tratam suas mulheres como vacas pegas no laço. Somos obrigados a encontrar menininhas arrumadas para o coito com suas roupas de shopping e cabelo progressivo com alarme contra chuva. Não foi bem isso que me fez voltar as palavras, mas é o que me faz ter essa vontade de fazer não sei o quê.