Estrela no Vazio Entupido

Power on

Tenho mania de escrever umbigo com H. H de humano demasiado umbigo. Foda-se. Quero me soltar. Lembrei do que perdi. Cansada, no fim de noite dos bêbados quase buscando isolamento. Cansei, o cansaço me cria mentiras, me faz acreditar em contos de algum tipo de anticorpos mentais escanadálizados e ativados  pelos assaltos da consciência. Tô com vontade de fumar um cigarro atrás do outro. Não dá. Meu peito pode explodir a qualquer momento, não cabe mais o ar. Não cabe nada, só a lembrança do sábado no sofá. Queria engolir o controle da tv...mas tem sempre um botão de power. É que eu to ligada no foda-se.
Não quero dormir. Acabo de chegar da rua. Tenho essa mania de fugir de madrugada. Emputecer por um gole de cachaça! Sou toda meus caminhos tortuosos. Sou toda meus olhos vermelhos. Sou toda o olhar pro nada. E aquele céu...azul como a cor do infinito. As estrelas me dizendo que o disco voador já partiu a um tempo atrás. A gente é o que sobrou e vai ter que viver aqui: Terra. Melhor seria dizer "território". Acho que é assim mesmo, a gente tem que preencher o tempo, já que o espaço tá cheio, limitado. Então eu vivo...abro o portão de madrugada, sinto o gosto cítrico que vem da brisa gelada, o frio na espinha de quem preprara um segredo e saio.

...

"É porque eu sou uma pessoa altamente insegura. Eu não aguento a minha insegurança...Você acha que eu sou homem o suficiente pra me encarar, bicho? Sozinha com um terapeuta? Eu tenho a minha cabeça, você sabe o que é isso aqui? Eu dou alta é pra minha terapeuta, coitada, ela ia enlouquecer. e depois, eu vou ficar segura, de repente eu não canto. Olha aí a minha insegurança!"



 Elis Regina

da platéia para o palco


Arte, o que é arte? Qual é a pergunta que se quer responder através da sua arte? Da nossa arte? O que estou fazendo ali? E você, que me vê? Se vê?
Encontro com o outro? Formadora da alteridade? Estética? Que tem estética a ver com a sociedade? A Arte está na sociedade? A sociedade faz arte? Porque fazer arte na cidade?
O que você quer? Tudo bem com você? Você está aí?
Vamos todos morrer! Você está aí? Perceba as sutilezas. Nem tudo é o que parece ser. Olhe através do muro. Pronto , acabou? Chegamos ao fim do poço? Tem algo mais? Pronto? Qual a sensação?
Você sente? Você tem sentido?  O que é arte pós-contemporânea? O que é dramaturgia? O que é representação? O que é essa cadeira? O que é você?
Ser ou não ser, ainda é a questão? Eu serei... o que é a cidade? Aglomerado de gente que se bate? Cotidiano? Vida? Habitat urbano? Tudo bem com você?
Onde leva aquela escada? E a curva? Há passagem? Descubra a melhor maneira  de olhar para o céu. Estamos propondo uma nova perspectiva. Você está aí? É diferente? Conhece geometria? Elevação. Eu traço uma linha, perspectiva?
Tudo bem com você?


*Livre recepção do espetáculo “AquiFora”, do grupo O Povo em Pé, em São José do Rio Preto

Assalto

fora de forma. doente. mal segurando minha alma no corpo
aqui em Hollywood
aqui na av. Delongpre onde as enfermeiras vivem
onde diretores de filmes experimentais vivem
onde árvores vivem quentes e tristes sob o sol.

aqui onde as cadeiras de roda descem
deslizando do lar dos idosos.

quanto tempo Chinaski?
quantos amores mais atirados pro alto?
quantas mulheres mais?
quantos dias e anos mais?

dor atravessa as sombras desse quarto
posso senti-la em meus braços,
posso ouvi-la rodar em meu ventilador barato.

lembro de coisas, me levanto e começo a andar
não consigo parar de andar
de um canto a outro do quarto.

já fui um cara contente por estar só.
agora fui violado,
tudo tem seus extremos.

eles me têm – enlouquecido e encurralado.

eles me deixam fora de mim.
estão trabalhando em mim.
o ataque é furioso e implacável
e sem som.
os rios transbordam dos diques.
o sol cheira a queijo queimado;
mil rostos nos boulevards.
Vivo com criaturas cuja existência
não tem nada a ver com a minha.

continuo andando por esse quarto.
mal consigo respirar.

dei um nome para minha dor.
eu a chamo “Assalto”.

Assalto, eu digo, você poderia por favor ir dar uma volta e
e me deixar em paz?
você poderia por favor ir dar uma volta e
ser atropelado por um trem?

meus poucos amigos me acham um cara bem engraçado.
me fale sobre o Chinaski, eles pedem á minha namorada.

ah, ela diz, ele só senta nessa cadeira
e se lamenta.

eles riem.
eu faço as pessoas rirem.

Assalto, eu digo, você quer comer alguma coisa?
você já foi um dia um cavalo de corridas?
por que você não
dorme?
descansa?
morre?

Assalto me segue pelo quarto
ele pula em meus ombros e me sacode.

Lorca levou um tiro na estrada mas aqui
na América os poetas nunca irritam ninguém.
os poetas não jogam.

suas poesias têm cheiro de hospital
onde as pessoas morrem ao invés de viver.

aqui eles não assassinam os poetas

eles nem mesmo notam os poetas.

saio na rua para comprar um
jornal.
Assalto me segue.

passamos por uma garote bonita na calçada.
eu olho em seus olhos. ela me olha
de volta.

você não pode tê-la, Assalto diz, você é um velho,
você é um velho louco.
tenho consciência de minha idade, digo com alguma dignidade.

sim, e consciência da morte também. você vai morrer e
você não sabe para onde está indo
mas eu estou indo com você.
seu cretino detestável, eu digo, por que é que você
gosta tanto de mim?

pego um jornal e volto.
nós o lemos juntos.

ah, meu companheiro!
nós tomamos banho juntos, dormimos juntos,
comemos juntos, nós
abrimos cartas juntos.
nós escrevemos poemas juntos
nós lemos poemas juntos.

não sei se sou Chinaski ou
Assalto.

uns dizem que amo minha dor.

sim, eu a amo tanto que gostaria de dá-la pra você
embrulhada com uma fita vermelha
embrulhada com uma fita vermelha de sangue
pode ficar com ela
pode ficar com ela toda.
eu  nunca vou sentir falta.

estou tentando me livrar dela, acredite
poderia empurrá-la em sua caixa de correio
ou atirá-la no banco de trás de seu carro.

mas agora
aqui na av. Delongpre
nós temos apenas
um ao outro.

CHARLES BUKOWSKI

Que assim seja...

Então foi isso: euforia! E agora sobrou a agonia, pra manter as minhas rimas ridículas. Ouvi que o amor não se faz sem o ridículo, então que seja, euforia-amor-agonia. Tanto se tem falado da paz nos meus dias. Tanto se tem feito dias na minha vida. E a paz, a paz é uma criança risonha, a paz é o baiano na rede, a paz é o silêncio que preserva os momentos mais preciosos.
quando olho o mar...

não sei se é a idade...

mas sempre esqueço de pensar

o que me faz lembrar

de toda a maldade encapsulada na realidade

por pura vaidade transformava os seres

em algo mais ...

Leandro Maciel
 

Naturalmente

Esbarro na raiz.
Profano o pensamento no que sinto.
Rastejo. No solo seguro
Colo palavras e sinto o que escrevo.
Sentindo
Pulso.
Desespero.
Desejo.

Assistente Social


- Será que isso é o ego? Essa mania de ficar falando, opinando, perguntando...?
Mara de batom vermelho entre os dedos, pergunta ao espelho. Olha para boca, seca, pensa:
- Quando se fala muito, não se consegue sentir quase nada. Lembra-se de ter lido em algum livro algo do tipo grandes coisas são ditas em silêncio, pelo olhar.
 –Acho que perdi meu olhar pela boca, diz ao espelho redondo.
Mara tem mania de mostrar que existe no meio das pessoas. É do tipo excêntrica e se sente livre. Está sempre solta por aí, no meio dos abraços e beijos no rosto que despeja nas pessoas. No fundo ela sabe que é só, todo mundo sabe.  E sabe, Mara, é daquele tipo de gente que não se deixa conhecer. Quando alguém se aproxima dela, assim bem perto, contato íntimo-convivência, escova-de-dente, almoço, Mara dá seu geitinho de enganar, e foge, ou dispara um tiro certeiro de palavras que atinge os dois seres com uma bala dada - o olhar.
Virar as costas pro mundo não resolve em nada, então Mara, que gosta de interagir com as pessoas, resolve fazê-las sorrir.  Ensina que se deve sentir mais e fingir menos, ter paciência e aproveitar a dor ou o prazer que cada momento possa doar.
-Mas eu tenho um ego besta, viu! Mara exclamando para seu porta cigarros, cor de rosa.
Pois é, um ego que quer ser visto, mas não tocado. Ela não tem medo da tristeza ou da angustia. Ah! Não mesmo, pois são os sentimentos que ela mais teve contato nessa vida- angustia e sofrimento. Sinceramente, Mara tem medo da verdade. Sua concepção de verdade é que ela, a verdade, é imutável.  E Mara tem medo de ser estática. Se acreditasse na verdade, quem a convenceria do contrario? Por enquanto Mara vive de mentiras. Quantas vidas ela já viveu com aquele sorriso estampado!
Olhando novamente para sua boca, vermelha e seca, mostra os dentes amarelos e constata:
- Deve ser por isso que não acho meu sorriso bonito.
Sim, é porque ele é de graça.

cuidado

"Estamos em face de uma nova mentalidade, a mentalidade do moderno colonizado, do homem que já não sabe querer ser um verdadeiro igual, mas que se sente suficientemente feliz porque pode imitar, mimetizar, os ricos e poderosos, confundindo, portanto, o falso com o verdadeiro. E pensa que nisso está a igualdade. Ele se torna, assim, um poderoso agente da falsamente nova sociedade, a sociedade da imitação, do falso novo, da reprodutibilidade e da vulgarização, no lugar da invenção, da criação, da revolução."


José de Souza Martins

Isso aqui não é uma verdade absoluta, não resumo o ser humano moderno como uma mimesis... é sim um aviso, olha tem gente pensando assim...então, precisamos deixar criar, aprender mais e mais manifestar a indignação.

...

Coloca a mão no meu peito. No centro.
Te vira, me encosta, me senti.
 Entra no jogo, esparramada , eu te alcanço.
Me sente? Sou ponta  que te toca a pele. Ouriço.
 Te sinto força. Há tanta coisa fora dessa resistência. Te espero em reticência.
Te acordo no meio da noite pra dizer 
- Vem comigo!
Foi
Calcinha verde
Água doce, embriagada
Foi
Meia-taça
Enxurrada
Gole-golpe, estrada
Te sinto longitude
Meu corpo-espinho
Gruda e apaga

é...

Madrugada dessas, eu no meio de dois brothers, o violão de lado esperando o tom, caneta e papel fazendo a roda. Saiu isso aqui...seja lá o que for...achei legal.

As pessoas devem fazer sexo
o resto é dinheiro
Mas o dinheiro
trás o sexo
e um beque, fazendo um favor...
ninguém gosta de ninguém
apenas tem medo de gostar de todas
somos perdedores no que sentimos mas ganhamos no que somos
nos encontrando naquilo que te tomam
engomam ou  que te entorna
diluí devagar...
Quando acabar a bebida e o cigarro
todo mundo volta a ser normal...
podendo sentir o amor ou a
raiva dentro de si...
a liberdade querendo viver
dentro do peito, que se sufoca
com a dor
amor
quem vai saber
doer, sentir
foder
viver
vai saber
um copo
eu, você
eu , você, todos...
Quem escolhe, quem é escolhido
não é um qualquer
mas um que se sente vontade.

Oração do Pássaro

Não entendo o motivo, mas sei que ouve um tempo em que os militares sentiam um prazer doentio em torturar gente que queria vida mais do que exestência pacífica, e o mais louco de tudo é que até os padres entraram nessa de "inimigos da nação", entre eles o Frei Betto.



Oração do Pássaro - Frei Betto

Senhor, tornai-me louco, irremediavelmente louco
Como os poetas sem palavras para os seus poemas,
As mulheres possuídas pelo amor proibido,
Os suicidas repletos de coragem perante o medo de viver,
Os amantes que fazem do corpo a explosão da alma.

Dai-me, Senhor, o dom fascinante da loucura
Impregnado na face miserável do pobre de Assis,
Contido nos filmes dionisíacos de Fellini,
Resplandecente nas telas policrômicas de Van Gogh,
Presente na luta inglória de Lampião.

Quero a loucura explosiva, sem a amargura
Da razão ética das pessoas saciadas à noite pela TV,
Da satisfação dos funcionários fabricantes de relatórios,
Dos deveres dos padres vazios de amor,
Dos discursos políticos cegos ao futuro.

Fazei de mim, Senhor, um louco
Embriagado pelo vosso amor,
Marginalizado do rol dos homens sérios,
Para poder aprender a ciência do povo
Em núpcias com a Cruz que só a Fé entende
Como um louco a outro louco

Marcella Thais!

Má! publiquei sua Silvia! é linda! Eu não resisti!


SILVIA

Ela queria entender, somente entender.
Tem dias que é assim,
E ela se importava. Muito!
Fumando um após o outro, se questionava, se aconselhava.
E mesmo... Via seus sonhos espalhados no chão.
As palavras líquidas que escorriam pelo seu rosto sem parar, procurando um timbre...
Tudo tem sentido.
Ela não quer mais sentir!
É livre, mas parece que gosta da dor.
Do amor.
O desprezo, a indiferença não é capaz de destruí-lo por um tempo.
Ela achava que com as lágrimas que saíam sem cessar, o sentimento sairia sem pestanejar.
Enquanto andava, ouvia certos acordes,
Planejava certos cortes,
Tentava algumas mortes...
Nunca em vão!
A cada passo crescia. Mas descia.
Forca que a foca.
Silvia não sabia se fugia, se ria, se persistia.
Quer fumar, quer ir pro mar, quer voltar, quer ficar lá.
Se alivia com suas escrituras e uma dose de álcool com canela.
Para ela, era verdadeiro.
Como o dia que nasce e morre,
a nuvem que corre,
Sombreando Silvia, o seu lamento.
Levando-o com o vento,
(tudo em seu tempo)
Para que no bico de uma águia
Se transforme em tempestade.
Jorre suas falhas, suas dores, grite sua liberdade.
Silvia não quer brincar de vai passar.
Quer que o comum se foda.
Quer fogo no ventre!
Quer que ninguém mais entre...
Seu descontente queima, vira cinza que não polui.
Silvia assobia, e cantava quando chovia.
Mar de amar...
Menina ela.
Pensa... Doce tolice, prefere a canela!

Mudança de Planos

Tá bom, eu não vou mais escrever assim solto, sem contexto. Não tô achando que a minha escrita seja livre. Eu penso enquanto eu mesma leio o que escrevo pensando ser você na hora que isso aqui for te mostrado. Isso não tem nada de livre. Eu não sou você e pensando assim eu não sou nem eu escrevendo. Tô ainda pensando nas minhas justificativas para colocar essas coisas aqui. Tô pensando, não tô sentindo. Quer dizer, eu tô sim. Eu tô sentindo raiva por me enganar. Mas também tô raciocinando sobre quais os motivos de publicar meu umbigo nesse espaço público. Mas tá decidido. A Clarah Averbuck me inspirou, vai ser umbigo geral de agora pra diante. Eu tô com coragem e tenho o poder! Eu aprendi a escrever A, B,C, E, O, U..,é só juntar uma na outra e manifestar os fantasmas daqui de dentro. Foda-se se eu não tiver razão.  Eu vou falar de mim mesma sem eira nem beira enquanto ouver vontade de me enfiar aqui dentro da minha cabeça, você vai ler eu sem correções gramáticais.
Certo, eu escrevi isso aqui durante o curso de capacitação para produção cultural...tá tudo no papel pra eu transcrever depois. Eu não guentei cara! Eu tava aqui num mundo paralelo, como se fosse dentro do pc, imaginando como mudar meu mundo de vez, como Ser de verdade. Agora já tô melhor, pode-se dizer que eu voltei. Tô aquiagora, tô ouvindo essa moça falar, mas não tô escutando não, é que eu tô Quase voltando. As paredes estão voltando a ser verdes, o meu pé tá começando a sentir o chão e a minha bunda tá doendo, dormente, foram 4 horas sentadas aqui pela manhã e mais 4 agora a tarde. Tenha dó! Eu não tenho não, fazê o que? escolhi né. Tá quase acabando, e se eu sair a moça não vai ter mais um ponto fixo pra olhar enquanto fala, aqui no canto esquerdo da sala. Vai ver é porque meus olhos são grandes e eu uso óculos, tenho cara de alguém que pensa, ou que é curioso, desconfiado sei lá. Vai ver ela quer me convencer. Ah não! Calma aê...eu não tô nem ouvindo. Fez um silencio agora. Puts, ainda não acabou.

Quebrou

Alguma coisa se perdeu nesse ar.
 Saudades daquele cheiro e dos olhos.
Dos meus...não querem brilhar, estão cerrados.
 Abandonada no calor dos dias.
 Hoje quebrei dois copos!
 Nenhum deles tinha você, não vou limpar.
 Dizem que são más energias indo embora.
 Eu acredito. Não limpo.
 Tô procurando poesia.


 


besteira

O tempo é faca cravada no peito. Aperta o coração. Não por um minuto, nem em segundos - uma vida inteira a espera do que salva a alma. Do profundo para um salto ao infinito. De braços e laços apertados. Afrouxa coração, perde a razão...E encontra a solidão.

Alhos com Bugalhos

O mundo  corre na velocidade de um trem bala, deixando pra trás as tendências surgidas ontem e que hoje se tornam lixo. Escrementos de uma época. Este new coolunista não nega o efervecer do planeta. Esse imenso sorrisal cultural. Pintores que não sabem pintar, músicos que não sabem tocar, cineastas que não sabem filmar e críticos que não sabem criticar. Instalou-se o vazio geral e a imprensa aplaude esse espetáculo grotesco. A mídia diz que caos é chique, coisa de final de século. Mas, convenhamos, tudo não passa de tremenda merda metida a besta, com pose de pós-bosta.
Se a próxima onda é o Japão, surfarei rumo às ìndias; se todos se estirarem na praia, subirei o morro, aquele dos ventos uivantes, e se James Dean ou Mick Jagger fossem vivos, hoje seriam uns bundinhas. Não há rebeldia criativa que não sucumba diante de um gordo capital. Assim profetizou Karl Perkins ou Marx Bolan. Sei lá! Sei que ao ouvir falar em contra-cultura, puxo logo meu contra-cheque. Quem sabe faz na hora, não espera acontecer. Portanto, molecada botem pra foder. Peguem seus cartões automáticos, vão ao banco 24 horas mais próximo e saquem todas as bandas de rock desejadas. deixem todos os saldos negativos. Gritem, rápidos: "Anarquia! Anarquia!", porque, como disse Bob Dylan a Abie Hoffman, diante de duas carreiras de cocaína: " O último que chegar é mulher do padre!"

Rui Resenha



* Extraído de "Antologia Chiclete com Banana" - Angeli

Mais uma dose


Vem, acalma meus olhos, me olha no fundo. Me explica no silencio os mistérios.  Me busca e guarda, só por agora. Já. Minha pele te implora e faz promessas ao sabor do suor. Encosta e adoça. 

Envelhecer

Ela se mantém ali, parada, deitada sabendo de tudo. Grandmother. Encana com o horário, encana com o lugar. Não sei qual é o tempo que passa na sua vida, mas ela sabe tudo. Ela carrega o mundo nas juntas atrofiadas de humilde senhora- a Dona Maria, de pernas cansadas da pia, dona da vida, sofria...Dona? mesmo? Será que um dia ela seguiu o tempo que lhe vinha na cabeça? Será que ela já perdeu a novela das 8? Será que ela já passou a madrugada na chuva a uma quadra de casa sem vontade alguma de entrar? Será que ela já quis ficar sozinha?
Silêncio. O coração de Minha Senhora bate descompassado. Ouve os passos marcados de sandalha arrastada vindo da cozinha. Nó na garganta. Não reconhece mais o som do palpitar de seu coração. Não. Seu coração é descompassado e o nó na garganta se torna cada vez mais amargo. Sabe que dalí alguns segundos ele vai aparecer, as sandalhas arrastadas não enganam. Ele surge. Olhos nos olhos, se atingem como um raio de sol refletido no espelho. Ele senta no outro sofá, estende as pernas, olha fixamente para a TV. Carnaval, desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. A vida espera.

Saída

A hora de ir embora um grande mistério que só um coração livre pode entender.

Sun is Shining

Saí pra dar uma caminhada, fumar a bagana. Tinha pensado como tinha perdido minhas palavras assim tão simplesmente. Inventei de ter um blog. Inventei de me esconder por trás de palavras que rimassem pobremente sem paixão. Não sei o que ta acontecendo hoje. Fiquei esperando não sei o que. E não veio. Parei aqui na frente dessa tela. Re -li confissões inúteis dos dias fúteis. Procurei mais uma vez. Não deu. Olhei pro dia quente que se estendia pela janela. Saí. Passos sem paixão. Escolha? Não. Escolha seria um copo de bebida barata, o cigarro do lado, um bar com balcão ou uma banda tocando com fúria os acordes da angústia. Mas não, nada disso tem em Dourados. Só pude sentir mais uma vez o mormaço da rua que faz pingar o suor inutilmente no piche esburacado do asfalto. Nada. Só esse brilho amarelo ridículo “sunshine” hipócrita que não dá um descanso, uma praia, um rio pra contemplar.  Dourados! Somos todos dourados por aqui! Uma Nova Califórnia! Aqui não tem povo, tem exploradores e tem os que querem um ganha-pão. As minas secaram, as terras acabaram, as indústrias estagnaram, tudo ficou saturado de pobre, maquina e petróleo, então a solução foi vir pra cá, Centro-Oeste - ocupar. Daí que a gente é obrigado a guentar "sertenejos" que não sabem nada do que é seca ou comer palma, montados nas suas caminhonetes prepotentes que não são capazes de dar seta ao virar, que tratam suas mulheres como vacas pegas no laço. Somos obrigados a encontrar menininhas arrumadas para o coito com suas roupas de shopping e cabelo progressivo com alarme contra chuva. Não foi bem isso que me fez voltar as palavras, mas é o que me faz ter essa vontade de fazer não sei o quê. 

dos dias e noites blues

A Lua cada segundo mais brilhante
o dia parecia que ia
chover
o vento de agora parece que vai
molhar
e nada acontece

Eles sorriam tomando uma cerveja
enquanto  fingiam ser aquele
o primeiro encontro
Talvez
o primeiro corpo a corpo
sentiam ali mesmo o poder dos
Olhos
brilhantes com o tilintar dos
Copos

Silêncio

Desapego
como se nada tivesse
acontecido
Segredo

Só mais uma madrugada