Um cotidiano que eu mereço é todos os dias aprendendo a
aprender. Aprender deveria ser sinônimo de deixar aquilo que diz que você só
vai fazer o que quer, aquilo que diz que você é quem sabe de si, deixar isso
tudo ir pro inferno! aprender é dizer não pra própria razão dominadora que fica
falando que você é quem está certo. Humildade! Eis a palavra! Um poder de se
permitir ser ilimitado independente de ser melhor do que o outro. Aprender
sobre movimentos, corpo e poéticas corporais então! nem se fala! um super exercício
de humildade e sensibilidade. Dança, lutas, acrobacias, malabarismos...todos no
mesmo corpo-ser. Pa. Baum. Pow. Cada pancada um fantasma desaparecendo. Cada
pancada um assombro a menos. Cada deslizar dos pés uma descoberta. Aprendo
sobre o cuidado, sobre cuidar de si, cuidar do outro e estar em relação. Como
dizer que uma dança não é uma agressão? Pancadas no chão, pancadas no ar que
rodeia o bailarino. O pé que sustenta também golpeia. As mãos contrariam a
resistecia do ar. O umbigo ambíguo trabalha em função da contradições das
forças céu e terra, queda e salto. Estar em relação com algo além de mim, com
um lado ainda obscuro! Quantos lados tenho? O que me rodeia? Qual o segredo que
me norteia? Quem disse que existe bem ou mal? Alguma coisa se altera em mim
quando aprendo a dar golpes, passos, socos, ponta pés e usar a força com
consciência. A força consciente, consciente de um poder do inconsciente, de um
poder que não vem do pensamento, um poder que vem em saber abandonar as idéias
que eu tenho de mim mesma. E pra que isso? Sou eu aqui raciocinando agora...pra
que? Sem porquês, apenas palavras para aumentar a fé, como uma meditação que se concentra no próprio
ar. Então eu posso mentalizar o abandono e
ter fé no poder do movimento, executar, deixar que meu próprio ser-corpo
seja um guia repleto de sangue, suor e ar pra então transcender, gerar beleza,
gerar a luta. Mesmo um perdedor aprende sobre sua própria fé. A Fé em abandonar-se. A fé em
permitir-se, a fé na fluidez da própria vida, a fé no que nasceu de dentro para
fora que é bem maior do que o que se
pensa ser nascido. Cada palavra é um caminho. Cada golpe é um estrondo no
infinito, é uma ação que vai além do que está ali preso no meu cabeção. Cada
palavra é um caminho. Acredito nas minhas duvidas!
Confuso. Eu não sei o que é saber! Tenho a impressão de que ainda não sei
aprender sem prender. Saber as vezes se parece com uma prisão. Tudo que se sabe
se limita. E porque eu quero saber? Técnicas e técnicas e instrumentos, tudo foi criado para libertar
a humanidade, para permitir a criação, estou pensando certo? E porque a gente
tenta dominar alguma coisa? Porque esse prazer em se saber sabido? Eu quero
mesmo é não saber! Eu quero mesmo é me largar! Executar o movimento, como um
cavalo que corre sem saber pra onde vai, e se defende quando numa guerra, luta
quando numa corrida, sem se perguntar para que ou para quando, sem pensar em
recompensas. Arte. Luta. Fogo. Jogo e Liberdade.
Saber não saber. Ter fé na própria força e vontade de superar os obstáculos. Ter
fé no que se desconhece, ter fé na surpresa do mundo e na sua própria resistencia. Permitir a
transformação. Viver acordada.
2 comentários:
poora, valeu mina.
valeu Marcelleza!
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