Estrela no Vazio Entupido

fumaça

eu fumo um cigarro sem poesia
pra que você não se aproxime
eu estou do teu lado
a fumaça sobe pra tua cara
e eu continuo ali
executando
faço de conta que não ligo
me aparece um sorriso
de buchecha armada
me aparece abraços
de outros bêbados
e eu viro um Fortim pela metade

eu me viro, penso
volto pra casa me arrastando
se for preciso
mas eu não volto
eu vou atrás de você
vou descobrir o que será do seu amor
eu fico
eu espero você e todos os outros
vou embora e volto pra trás

e agora eu aqui sozinha
com o mantra
nunca mais vou beber rodando
no estomago

senti medo de estar só
pela primeira vez
na noite
véspera de feriado
feridas aqui na moral
na alma
no peito
e pessoas
e abraços
gargalhadas
escuridão
tesão
eu não

não pude chorar
me lembro de uma frase
dita em cena
"não gosto de chorar
me sinto tão consolada"
e fiquei

tem essa força
engolida de uma garrafa
a beira do nada
e eu atrás de mim
sozinha
sem bebida
sem fumaça
só o ar
e o que me incomoda
pra eu sair do lugar

Asfixia

Não! não! eles não vão me vencer!
Não importa se achem meu cabelo engraçado  se me perguntem em tom de brincadeira se eu já penteei o cabelo hoje, se achem minhas roupas excêntricas,  não importa se eles achem que meus amigos são viados, lésbicas, tatuados, furados de  peircing, não importa! Eles não vão me vencer, nem me aprisionar! 
Quer dizer, importa sim! importa eu que eu pense como é que eles comem suas  mulheres? se já conseguiram se divertir alguma vez na vida sem ter grana? se já se sentiram perdidos de si mesmo? se já conseguiram ficar despreocupados olhando as estrelas e imaginando de onde viemos, só pelo prazer de imaginar. Se já subiram alto numa montanha e sentiram a vertigem de olhar pra baixo e ainda assim sentindo vontade de se jogar la do alto, só pra saber a sensação de voar. 
Importa perceber o medo deles de tudo que é diferente, e a fraqueza deles diante de tudo que não conseguiram alcançar , pois suas mulheres não são como as da novela, que acordam penteadas, o bolso deles tem um fundo ali bem próximo das mãos. Importa saber o que será dos filhos deles, viciados em video game, amarelos por não saber brincar ao sol, doentes de Coca-cola e sem saber subir em árvores. Mas também pra que subir em árvores né? essas crianças sabem bem como apertar botões de elevadores.
Me pergunto se já comeram o rabo de suas mulheres, se as fizeram gemer e tremer de prazer, me pergunto, se essa crianças nasceram de um gozo isolado ou um orgasmo profundo. Me pergunto se eles sabem o que é ter um amigo e não se sentir sozinho com as suas idéias sobre o mundo, que afinal serve apenas como um meio entre nascer e morrer.
Nunca souberam o que é sentir ou pensar por si mesmo por encontrar no outro um pouco desse tal si mesmo?
Vocês me desafiam, a achar uma saída que não seja aquela que destila o ódio e a vontade de mandar todos pra um outro espaço, vocês me desafiam a manter o riso e a alegria, me desafiam a manter a cabeça estudando uma saída, o que é o humano? Seres que já nascem amarrados a outros seres, sim, todos nós, seres que pertencem a gravidade, cheios de gravidez, cheios de duvidas, de desejo,  cercados pela morte. Sim, saída? como se houvesse outra coisa, realidade, vida pra álem do que se vê. Acho que tem, porque a gente imagina e crê, e essa crença que na verdade faz a vida,  então o problema ta na cabeça, na cabeça isolada do corpo, da presença, do simples fato de que a gente pertence a mundo conectado desde as partículas mínimas das células até as do microcósmo em forma de estrelas.
Ok, eu não tenho resposta, não tenho nada só essa sensação asfixiante. Asfixiante como um riso de um viciado em gargalhar. Já ouvi dizer de gente que morreu de soluço. Não seria possível morrer de riso? agitando todo o corpo por dentro, descolando os tecidos e explodindo as veias numa euforia eterna. Um riso que colocasse o ser na velocidade da luz, em outro plano pra transcender geral...é um sonho, um fim, uma ausência... e essa asfixia generosa que vai consumir a todos.

Feio...

triste são os amores mal despedidos.
essa angustia de um amor desamor amor
e ninguém desaparece
viciados em presença
é minha cara!
ausência
desprezo
indiferença
recalque
sabe assim,
um remorso misturado
com inveja de te ver povoando as ruas?
é estranho tentar
matar as pessoas dentro de si
mesmo sem sair do lugar
olhar baixo
acocorado
eu provocando
chamando a atenção
desesperadamente
olho no olho
sua mão tocando o cigarro
riscando o isqueiro
eu com tesão por mãos
coração palpitando
olho vazio
um silencio profundo
inspirado
atravessando paredes
buscando um caminhão de lembranças
bom te ver
seja la como for
difícil te reconhecer
escolho só o que me interessa
sempre busco
dessa vez
quase te achei.